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Imagem: Banco de Imagens

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26/05/2020

Se educação é também um investimento, a lógica do mercado, então, se aplica a ela: busque o máximo de retorno pelo menor preço possível. Foi esse pensamento que levou Aaron Rasmussen, cofundador da MasterClass, plataforma que traz cursos ministrados por celebridades mundiais, a se dedicar à criação de algo mais acessível.

Desde 2018, o empresário, que é formado em ciência da computação e atuou como diretor de arte e CTO da Masterclass, se dedica exclusivamente ao desenvolvimento da Outlier.org, uma empresa que pretende “virar o jogo” do ensino superior nos Estados Unidos com aulas online.

Tal qual a empreitada estrelada de Rasmussen, essa também promove aulas virtuais com qualidade de cinema. Dessa vez, porém, os professores não são necessariamente famosos, mas são igualmente respeitados em suas especialidades.

O diferencial mais relevante da Outlier.org, no entanto, é que essas aulas online contam como crédito para faculdades americanas. “Agora, docentes da melhor e da pior universidade do país têm o mesmo conjunto de ferramentas. Não se trata mais de quem tem um planetário no campus ou a melhor biblioteca. A ênfase está no conteúdo e na instrução”, disse Rasmussem ao NeoFeed.

Com essa missão, a plataforma foi ao ar em agosto de 2019 e captou US$ 16 milhões em investimentos , vindos de fundos como Tectonic Capital, GSV Ventures, Harrison Metal e TenOneTen Ventures.

Tamanho interesse por algo tão novo é facilmente explicado. “Os primeiros dois anos das faculdades nos Estados Unidos movimentam cerca de US$ 50 bilhões por ano. Mas esses primeiros dois anos não precisam, necessariamente, ter o carimbo das universidades prestigiadas. É um período de aprendizagem básica”, afirma Rasmussen.

Diferente do sistema brasileiro, o ensino superior americano é dividido em duas partes. Nos dois primeiros anos, os alunos têm de passar por uma espécie de ensino geral, que mistura algumas matérias obrigatórias, como inglês, com outras opcionais, como oratória ou fotografia. Depois, os últimos dois anos são relacionados à graduação específica que alguém almeja.

Por isso, é comum que alunos com dificuldades financeiras optem por cursar os primeiros 24 meses de ensino em instituições locais, pouco conhecidas. E só depois escolhem ir para universidades mais caras e respeitadas.  

Nos Estados Unidos, os alunos têm de desembolsar, em média, US$ 9 mil por ano para cursar o ensino superior. Com a Outlier.org, a ideia é que o gasto com os dois primeiros anos cairia para US$ 3,2 mil/ano.

Na plataforma, os cursos são trabalhados à la carte. Embora a meta seja disponibilizar 25 cursos (o suficiente para suprir os primeiros dois anos de faculdade), por enquanto, estão disponíveis apenas dois: Cálculo I, de matemática básica, e Introdução à Psicologia. Cada um tem o valor fixo de US$ 400 e esse investimento é reembolsável caso o aluno não passe de ano.

Depois de escolher o curso, os alunos escolhem os professores. No caso das aulas de Cálculo I, por exemplo, é possível optar pela orientação da professora Hannaf Fry, da University College London; Tim Chartier, da Davidson College; ou John Urschel, da prestigiada MIT. No total, 15 docentes de universidades como Yale e Columbia estão disponíveis na plataforma.

Para replicar um pouco da experiência de interação social online, os alunos são reunidos em pequenos grupos de estudo, formados de acordo com o fuso horário de cada um. Num chat dentro da plataforma, os estudantes podem tirar dúvidas e trocar impressões sobre o processo de aprendizado. Sessões de reforço individuais também fazem parte do programa e, para acomodar estudantes de diferentes regiões, várias opções de agenda são colocadas  à disposição.

Os créditos conquistados virtualmente são aceitos pela Universidade de Pittsburgh e outras instituições de ensino americanas. Sem divulgar o número de inscritos, Rasmussen conta que o foco agora é criar mais conteúdo e firmar parcerias com outras universidades americanas. Tudo que seja necessário para facilitar o acesso à melhor educação, pelo menor valor possível. “É por isso que nosso nome tem o ‘.org’, que é para todo mundo entender que nossa missão é social, mesmo que sejamos uma empresa com fins lucrativos”.

Em entrevista exclusiva ao NeoFeed, Rasmussen conta mais detalhes de sua experiência à frente da Outlier.org.

Você acredita que MasterCalss e Outlier.org possam competir em algum momento, já que ambas trabalham com educação online?
Não, são companhias fundamentalmente distintas, com objetivos diferentes. Os usuários da Outlier tendem a ser estudantes entre 18 anos e 20 anos, que desejam dar continuidade a seus estudos ou aperfeiçoar uma matéria específica, mas por um preço menor que o praticado pelas universidades. No final das contas, a proposta da Outlier.org é gerar créditos que podem ser transferidos para faculdades e cursos de extensão. O MasterClass permite que você acesse uma sabedoria que não estaria disponível em nenhum outro lugar, enquanto a Outlier.org é relativa a estudo acadêmico, do tipo que prove para as universidades que o aluno domina aquele assunto e merece o crédito conquistado.

Para criar a Outlier.org, você utilizou alguma das lições apreendidas no MasterClass?
Eu aprendi muita coisa com os instrutores do MasterClass. Eu dirigi pessoalmente o curso do Werner Herzog (ator e cineasta que participa, entre outros títulos, da série original “The Mandalorian”, da Disney+) e a cada dia de gravação eu colocava em prática algo que ele havia ensinado no dia anterior. Uma das coisas que eu aprendi com o Werner e que uso na Outlier.org é que sua equipe trabalha com mais afinco se, na volta para casa, sentir que cumpriu sua missão. Por isso, eu gosto de começar o expediente com uma reunião com os envolvidos, relembrando qual o nosso objetivo com aquela aula: aumentar o acesso à educação de qualidade e reduzir o débito estudantil. Ajuda a todos a perceber que não estamos apenas contando uma história e fazendo belas imagens. Estamos usando nossos talentos para cumprir uma missão social e promover oportunidade.

Agora que estamos todos “trancados” em casa e usando plataformas online para a educação, você acredita que esse modelo de ensino pode entrar em uma nova era?
Nesse momento em que somos obrigados a ter aulas virtuais estamos começando a entender o potencial disso. Estamos vivendo o maior experimento mundial de educação remota. Sem o limite físico dos campi e com possibilidades infinitas ao alcance dos dedos, os alunos podem provar uma variedade de experiências em sua jornada de educação online. Tudo isso para dizer que a mudança para o aprendizado requer um esforço de todos os setores da educação. Agora, professores da melhor e da pior universidade do país têm o mesmo conjunto de ferramentas. Não se trata mais de quem tem um planetário no campus ou a melhor biblioteca. A ênfase está no conteúdo e na instrução. Isso fará com que os alunos pressionem o corpo docente das faculdades para que as instituições sejam mais tecnologicamente eficientes, convenientes e integradas com o que acontece no mundo ao redor. Sem dúvida estamos sentindo um impulso “forçado” para a inovação tecnológica no ensino superior, mas os efeitos duradouros ainda estão chegando

Muitas escolas e universidades tiveram de mudar, da noite para o dia, o formato de suas aulas, passando de lições presenciais, para as virtuais. Acredita que é simples assim virar essa chave e que o conteúdo deveria ser apresentado da mesma maneira?
Há muitos fatores que professores e alunos precisam considerar para fazer essa transição e é um baita desafio virar essa chave assim, de maneira tão abrupta. Na Outlier.org, a gente acredita que o futuro da educação superior está diretamente relacionado a custo e qualidade, mas sempre haverá demanda para os dois métodos de aprendizagem: físico e virtual. Tudo vai depender das preferências, prioridades e disponibilidade de cada aluno.

Mas você acredita que o online consegue suprir completamente?
Para muitos, a experiência presencial em um campus é um dos maiores atrativos das universidades, e perder essa possibilidade de construir uma vivência e comunidade em primeira pessoa, sem nenhum tipo de ressarcimento financeiro, tem sido uma queixa compreensível por parte dos alunos. Além disso, os cursos que foram meticulosamente desenhados para serem conduzidos com aulas presenciais, tiveram que, de repente, mudar todo o programa para se ajustar a essa realidade online. Em alguns cursos, principalmente nas artes cênicas, essa mudança repentina não é sequer uma possibilidade. A qualidade certamente será impactada.

A audiência da Outlier.org aumentou durante a crise do novo coronavírus?
Estamos em uma fase da empresa em que os números exatos não são de interesse público, mas sentimos que a pandemia fez com que muita gente considerasse a educação online de uma maneira inédita. O estigma contra as aulas virtuais mudaram subitamente e o reflexo disso pode ser visto na escolha dos alunos, que têm eleito a Outlier.org como sua instituição de cursos online.

Geralmente pensamos na educação a distância pelo ponto de vista do instrutor, mas quase nunca do aluno. Quais dicas você daria para quem se distrai com facilidade e acredita que é incapaz de aprender virtualmente?Um bom método para finalizar uma aula desafiadora, seja por conta do conteúdo ou da dificuldade de concentração, é olhar para essa experiência como um exercício físico. Malhar não é divertido para todo mundo, e certamente não é pra mim, mas se você se programa e se compromete, pode fazer acontecer. Firmar uma parceira com alguém também é uma ótima maneira de “suportar” as partes chatas, se manter na linha, e, de quebra, ainda zelar por uma amizade. Se nada disso for possível, o método de gerenciamento de tempo conhecido como Técnica Pomodoro, pode ser uma ótima alternativa. A metodologia consiste na utilização de um cronômetro para dividir o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos

Qual foi a aula mais desafiadora?
Cada curso tem seus próprios desafios, mas acho que o curso de Cálculo foi o mais difícil. A quantidade de conteúdo que a equipe teve de lapidar foi enorme. Além disso, foi a primeira classe a ter esse approach de crédito educacional. Filmamos esse curso três vezes, com três professores diferentes, e a partir disso desenvolvemos três apostilas. O que já era complicado, ficou três vezes pior.

Você tem um histórico em ciência da computação, mas não necessariamente em educação. O que aprendeu na prática sobre essa área?
Tenho experiência em vídeo e ciência da computação e ambas áreas requerem que você seja um pouco autodidata, o que fez de mim um eterno aprendiz. E é esse approach que eu carrego comigo. Na Outlier.org, a gente conta com o aval de pedagogos e especialistas para formatar uma grade curricular e metodologia. A nós cabe apenas formatar tudo isso sob a ótica do aluno, de quem aprende.

Há como mensurar o sucesso da plataforma no Brasil?
Não posso dar nenhum dado estatístico, mas posso dizer que a Outlier.org está disponível para qualquer aluno, em qualquer lugar do mundo. Basta ter acesso à internet.

O que podemos esperar do Aaron e da Outlier.org daqui para frente?
Temos muitos planos empolgantes, mas por hora nosso principal objetivo é maximizar o acesso dos alunos. No segundo semestre de 2019 firmamos uma parceria com a Universidade de Pittsburgh que excedeu nossas expectativas. E pretendemos formar novas alianças no decorrer de 2020. Queremos garantir que estamos fazendo tudo o que é possível para empoderar nossos alunos e motivá-los a aprender, concluir o curso e fechar essa experiência com chave de ouro e créditos válidos. Além dessas prioridades, estamos desenvolvendo mais cursos e expandido nosso time tão talentoso. Quanto a mim, estou 100% focado na Outlier.org. Tem sido um baita desafio, mas igualmente recompensador.

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